Dores

São tantas as coisas que rodeiam uma vida, uma simples história. Inúmeras e incansáveis memórias pairam minha mente, surgem de lugares que nem me lembro com absoluta certeza se existiram ou não. Mas eu os vivi, eu os senti.

Falso aqueles que enchem o peito e dizem que nunca sentiram dores, para mim é um dos sentimentos bases de qualquer Ser. Diferente de gostar dele, aprendi a manuseá-lo, ou melhor dizendo, eu tento manuseá-lo. Segundo o dicionário dor é uma sensação desagradável, que varia desde desconforto leve a excruciante, associada a um processo destrutivo atual ou potencial dos tecidos que se expressa através de uma reação orgânica e/ou emocional. 

Crucial a dor por perder alguém, chata a dor em que nossas dúvidas podem se tornar e intolerável a dor em ser um Ser Humano. O fato é que ninguém espera que as pessoas simplesmente sumam. Ou somem como faço eu, mas é um mês, uma semana... Ou um ano desbravando o mundo. Mas sumir ''eternamente'' é estranho, e nos causa dor saber que não teremos mais aquela companhia para disfrutar, fazer planos, rir, chorar, etc. Além da saudade que sentimos dos mesmos, agora também agregamos toda a saudade que transformamos em nostalgia. E a nostalgia sempre me incomodou mais, sempre foi a mãe dos desejos indesejáveis. Me diz: Existe pior sentimento do que sentir saudade daquilo que a gente quis viver? - E quando volta a pensar sobre a garganta seca, a respiração muda e o peito gela.
Lembro quase que com perfeição e às vezes tenho pesadelos com certos fatos transcorridos em minha vida, esse envolve dor, mas foi unicamente física, exceto aos meus pais. Foi quando um cachorro arrancou um pedaço da minha testa, às vezes até hoje acordo suando tanto e é tão real que penso ser sangue escorrendo-me a face. E sempre corro ao espelho, - acho que não temos uma memória muito boa enquanto dormirmos, é como se vivêssemos somente aquilo e ponto - procurando as marcas e quando vejo que o suor não era sangue volto ao berço. Lembro da dor daquele momento e lembro principalmente da expressão dos meus pais e médicos me olhando desde cima enquanto me empurravam para uma sala de cirurgia. Não sei qual o motivo, mas fatos ocorridos em hospitais me marcam.

E bem diferente da dor física também há a dor que se dá devido a alguma paixão; paixões dilaceram tanto e até mais que dores físicas, mas proporcionam sensações infinitamente maravilhosas.

Dizia Freud: ''Infelizes os homens que tem todas suas ideias feitas''. Sempre que não sei alguma coisa, ou algo me incomoda, lembro da mesma. Quem nunca transformou algo em dor? Tal como não entender certas coisas do mundo e se rebelar internamente. Sei que as respostas chegam aos poucos, afinal não é por nada que vivemos etapas, e da mesma forma as dores devem ser ‘’manipuladas’’, ao contrário da felicidade que deve ser vivida constantemente a dor deve ser digerida de forma homeopática.

Ninguém é forte o suficiente para aguentar. Algumas respostas demoram e nos angustiam, outras antes de chegarem já imaginamos, e há aquelas que nem lhe deixam esperar, estão já, aqui, é só interpretá-las. O interessante é perceber que todas as respostas estão dentro de nós mesmos, a única diferença é que não todas estão prontas para serem decifradas.

Uma pessoa bastante especial certo dia me disse: ‘’Pare de querer todas as respostas, tu tens perguntas em excesso e isso te traz uma carga enorme, viva o hoje e deixe acontecer mais.’’

E junto disso eu aprendi que devo amar as perguntas por si mesmas, elas são a razão de todo o existir, e não me incomodar com a falta de respostas. Não procurar desesperadamente por respostas que a vida não me pode entregar; ou não estão prontas, ou eu não saberia administrá-las no momento que tanto as gostaria. As coisas acontecem no tempo correto, e amar as inquietações da sua alma é fundamental, deixe-as à sua imaginação que todas as respostas necessárias lhe chegarão no tempo determinado.
E não fujam das dores, elas dizem tanto quanto outros sentimentos e representam parte do Ser Humano.

Outubro tem sido pesado, mas tem sido o melhor mês do último ano.