sábado, 22 de dezembro de 2012

A busca do Samadhi

As relações sexuais são intrínsecas ao homem, fazem parte de uma suposta ''necessidade'' fisiológica que nos pertence. Já a maneira como elas estão inseridas em uma sociedade depende basicamente da sua cultura, essa por sua vez, geralmente imposta por paradigmas do correto e do incorreto. Desde a poligamia ou poliandria à união estável entre duas pessoas como vivemos hoje na maior parte dos países, as relações sexuais estão instauradas em moldes familiares criados para satisfazer basicamente uma cultura machista imposta desde a pré-adolescência pelo meio social. A questão não é só moral, muito menos de defesa minha por uma moral que eu considero mais correta ou algo do tipo, tampouco é uma crítica a um ou mais conceitos religiosos ou ao modo como determinada cultura impõe regras para tais relações, a questão aqui é maior, bem mais ampla: Até que ponto o modo como o sexo está imposto hoje, por nossa sociedade e por outras tantas mundo afora, pode interferir não só na saúde das pessoas mas no nível de felicidade delas?
Nível de felicidade? Exatamente, parece besta, mas não é. Aquela ideia de que quanto mais melhor é um grotesco erro. Quantos mais íntimo, melhor. Aí sim. Martha Medeiros, escritora portoalegrense, escreveu um dia que sexo íntimo nem era melhor que sexo casual. Quando li, pensei sutilmente: será que Martha já se envolveu de ''cabeça'' em um relacionamento? Será mesmo que ela é tão inexperiente? Lendo mais sobre ela percebi que ela não é tão feliz no quesito relacionamentos, apesar de algumas de suas obras serem boas, confesso. Porque convenhamos, amar não é essa história de Hollywood onde os casais se conhecem na porta de um centro comercial ou na biblioteca pública quando os livros que um dos sujeitos carregava cai ao choque de ambos. Amar não é, tampouco, essa ideia de ''felizes para sempre'', acho que isso na verdade não tem nada a ver com amar. No fundo a gente nem sabe quando está amando, acho que amamos quando nos perguntamos silenciosamente: ''Se isso não é amor, o que mais pode ser?'' E geralmente nos damos por conta do que o amor é somente após o término, e não durante o relacionamento em si. Pois durante nem tudo são rosas, pois durante a gente precisa entender que duas pessoas significam também duas histórias, duas vidas, duas alegrias, duas dores, duas almas. E duas almas significam dois pontos de vistas diferentes - mesmo que às vezes próximos - do mundo. Pronto, ''duas almas significam dois pontos de vista distintos do mundo'', exatamente por isso, que um dia, pretendo juntar minha escova de dentes com a de outrem definitivamente. É isso, e principalmente por isso, que sinto vontade de viver algo a dois. E é justamente isso o que queria debater: compreensão. Essa é sem dúvidas a palavra mais importante em um relacionamento, ela une respeito, admiração e principalmente mostra que não basta somente desejar a presença de outra alma próximo a nós, e sim, querer o outro bem ao nosso lado, bem por nossa presença.
Em um relacionamento compreender significa saber, antes de mais nada, que as pessoas possuem um caminho já percorrido até o dia que nos encontraram, possuem também sentimentos já vividos e muitas vezes não superados, afinal, a gente não supera tão facilmente nossas dores, nossos medos, angústias, receios, a gente finge que supera o tempo todo, costumo dizer que somos a sociedade do fingimento. Com o tempo o próprio tempo vai tirando de foco e a vista começa a desembaçar, basta a gente querer. Superamos parcialmente sozinhos, porém, quando nos doamos para compreender as dores do próximo superamos mais facilmente as nossas e acabamos por transformar a superação do outro, também, menos complexa. A isso chamo amor: ao fato de conseguirmos transformar a vida de quem amamos em um lugar mais sereno e leve para se viver. Einstein dizia: ''A compreensão de outrem somente progredirá com a partilha de alegrias e, também, de sofrimentos passados.'' Muitos relacionamentos desandam não pela falta de interesse de um para com o outro, muito menos da falta de sentimento, e sim, por ausência de algo essencial: compreensão para além dos olhos.
Quem acompanha meus textos ou já debateu qualquer assunto comigo sabe do meu gosto pela Índia, pela história, religiões, línguas/dialetos, cultura em geral e também por questões ligadas à alma e os grandes legados que os indianos já deixaram à humanidade na área da meditação e afins. Existe, na Índia, um conceito chamado Samadhi, esse conceito é o grau máximo de ligação entre dois corpos/almas durante o ato sexual, segundo a crença hindu só é possível atingi-lo em forte ligação emocional quando o ''Despertar'', como também é chamado, reflete a ligação magnética entre as duas pessoas. Na religião hindu também existe o Brahmacharya, conhecido como ''Celibato Real'', que no ocidente foi erroneamente traduzido como ''O ideal contra a prática sexual''. O que o Brahmacharya quer é resgatar nas relações sexuais a conexão que tal ato deve representar, ele trata o sexo como algo muito mais elevado e profundo que nossa capacidade de compreensão, não é possível entender a magnitude de dois corpos em Brahmacharya, é somente possível sentir, compreender está aquém de nossa capacidade nesse quesito. Segundo a prática, duas pessoas realmente envolvidas e comprometidas uma com a proteção da outra atingem os orgasmos máximos que um homem pode atingir. As práticas indianas mostram basicamente que sexo banal jamais atingirá esses pontos, e que as pessoas perdem ali muito de sua essência, seu tempo e suas energias desperdiçando a chance de encontrar algo mais amplo, magnético e profundo.
É preciso entender que sexo não é e nunca será o fim, sexo é o ponto inicial de uma relação mais profunda e completa para quem está disposto a buscá-la. Sexo íntimo é a semente para uma vida plena, se ela for sustentada, alimentada e irrigada se transformará em fortes raízes que sustentarão, assim como os demais pilares do amor, um relacionamento íntegro. Quando o tronco estiver firme, porém flexível a ponto de se inclinar durante vendavais, o amor prosseguirá dançando ao vento, caso contrário romperá no primeiro sopro. Se você permitir ir além e souber relevar tempos de tempestades, flores hão de surgir. Permita a si mesmo espaços puros e amorosos onde sexo não seja o interesse básico. Caso contrário, você será sempre puxado de volta à terra e jamais atingirá o céu. A escolha é sua.



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